sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Distância nº 1


Caí no sumidouro de meu espelho de beleza
e vi que lá meu mundo é ermo, meu nome é outro...
ninguém visitou meu corpo, não me reconheceram
e quem se dissera amigo ficou do outro lado.

Caí no sumidouro de meu espelho de beleza
e deixei a luz me cortar, a escuridão me tocar...
fizeram festa sem mim, foram a rua comemorar
até que o dia acabasse sem deixar vestígio.

Caí no sumidouro de meu espelho de beleza
e ouvi que me julgaram cego, me deram por louco...
foram ao lago para nadar, afogaram meu nome lá
e não houve quem lembrasse que um dia amei.

Deixaram minha face embaçar, meu dedos deformarem
e todo tipo de encanto que parecia ter existido
mostrou-se azar por sete anos vezes sete anos,
em toda vida que se espelhou onde eu já me observei.

Agora vê: não posso quebrar o portal que me prendeu,
que a lua deste lado é, do outro, um dia ensolarado.
.
.
.

domingo, 29 de junho de 2014

Dedicação nº 2


















É necessária a transformação para chegar ao sumo
da casca que me envolve, da planta que cresce em mim
e sai do meu peito e ascende aos céus, e cruza os pássaros
para que cada um deles se aporte em meus galhos...

É necessária a troca de ideia que está certo o rumo
que se segue somente com os olhos e se parte com os pés
porque do contrário se seca a raiz dentro do peito
até que os braços murchos não possam envolver o outro.

É importante a rama que protege a terra e alimenta o gado,
é importante a roca que faz novas roupas e elege um corpo,
é importante a rede que alcança os peixes e apara a queda,
é importante o rio que leva ao oceano e atinge o outro lado...

Há quem diga que o choro é proibido porque demonstra
os monstros das fraquezas e meus desejos mais secretos,
há quem diga que fortaleza há onde se impõe a razão
e no jardim em que se encontram amores caem as vitórias...

Há quem diga que a vida acaba e a derrota é certa se não há
um pouco de egoísmo e sentimento de urgência no coração,
há quem diga que deixar seus sonhos de lado é pesadelo
e faz pesar o sono para nunca mais acordar para a vida real.

É importante dizer que não existe eu sem você ou qualquer outro,
é importante mostrar que os contratos humanos impedem o amor,
é importante desistir das aparências dos arranha-céus,
é importante se atingir a Deus com com a alma que morre por alguém.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Presente

















Hoje tirei
um amor da cabeça,
um poema de uma palavra,
catarro do peito,
tranqueiras do armário,
leite de pedra,
móveis do lugar,
o chapéu ao que admiro,
a sorte grande na vida -

depois disso tudo feito
nunca mais coloquei
nenhuma máscara,
nenhum dedo na cara de ninguém,
uma roupa maltrapilha
ou uma flor para os mortos.
.
.
.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Horizonte



                                                                                                         (Para Anna)

Caiu das estrelas arpoador,
iluminou-me nas marés
farol dos olhos a brilhar
onde o desejo vem se deitar.

Embarcação chamou o cais,
saiu da escuridão demais
p'ra cuidar do dia vir trazer
amor que onda não leva -

Sou marinheiro mais que ator
busco lonjuras navegar,
nunca mentir o meu amor,
buscar sereia neste mar.

Terra onde sou navegador,
traz no meu grito revelar
porto onde atraca o coração,
meu ponto final é estrela.

Desembarcar é te encontrar
riscar um astro o firmamento,
queda de um anjo me conduz
do céu o chão onde ficar -

Sou marinheiro por onde vou
deixo a estrela me guiar,
solo que toca o meu prazer
você é céu e e eu sou mar.
.
.
.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Divagação Nº 01
























Eu não acredito nesta história de que os opostos se atraem. Idade e lugar não é relevante, porém algo que não se vê acontece entre algumas pessoas e as histórias vão se conectando. O que une as pessoas parece ser uma certa história comum, que perpassa pela vida, pelos corpos, por diferentes tempos, deixa marcas, imprime um certo olhar e nos fazem homens e mulheres com quereres iguais a alguns outros que estão por aí, espalhados no mundo, nos espelhando a alma. Quando um encontra o seu par, nele vê algo em comum, então ocorre o amor, mais do que dos corpos, o amor entre almas. E este é um fenômeno raro. Assim eu tenho visto, assim eu tenho mais que percebido, eu tenho sentido.
.
.
.

domingo, 20 de outubro de 2013

Ciranda




















Uni-duni-se
universo-te,
o teu corpo inteiro-lhe
A si pertence-me.

Coração que bate-bate
coração que já é teu,
tem dia que é remate
e outros que nem nasceu.

Logo eu fui no tororó
ver teu corpo e me encontrei
que de nós foi feito nó
quando em ti eu me deitei:

ciranda, cirandinha
quero ver quem nunca amou,
quem guardou numa caixinha
seu amor que me entregou.

assim passa, passa o anel
e passam nossos dedos,
a boca sede ao mel
a pele esquece os medos.
.
.
.

domingo, 11 de agosto de 2013

Arquitetura - Parte II


















Todo corpo por dentro é
feito de sangue, carências
e um ritmo que toca na face
os rubores das carícias

com seus pares se partindo,
com suas pernas se perdendo
e suas partes se apartando
para então se permitirem

em recomeço, nova junção
em uma só carne, um só cerne
da respiração que une dois corpos

num só elemento, numa só lama,
em frases de um só lema
que os guie para a mesma cama.
.
.
.
Veja aqui a parte I:  Arquitetura - Parte I

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...